Tuesday, May 12, 2009

Julieta


Quando eu era garoto, vivia andando nos corredores do hospital; entrava nos quartos para conversar com alguns amigos e amigas. Mas esta época fôra marcada por regras de tratamento, onde se dizia que ficar direto na cadeira dava oportunidade de ter escoliose, e piorar meu sistema respiratório. Por conta disso, cada vez mais, os passeios no corredores foram diminuindo.
Minha oportunidade de conhecer a natureza desse mundo maravilhoso chamado Terra, veio nas oportunidades de médicos que viajavam para sítios durante finais de semanas, e traziam algo que jamais alguma enfermeira imaginava entrar em um hospital.
Dr. Giovanni era um médico que para mim, foi o que me internou, nos meus 1 ano e meio de idade. Para mim, era o rosto marcante que a cada momento que um médico entrava no quarto era a presença dele. Quando eu estava chorando, minha oportunidade de consolo de um pai, era a dele, sendo assim, em um dos meus aniversário ganhei do pai Giovanni, o Forte Apache. Quem não lembra desse brinquedo ?
Uma vez, pai Giovanni disse que iria viajar, e que quando voltasse, me traria uma surpresa. Nesse dia deveria ser uma sexta-feira. Ansiosamente esperei que o sábado e domingo passassem correndo, pois o dia de ganhar uma surpresa seria segunda-feira.
No dia tão aguardado, já acordado, esperando pelo pai Giovanni, de olhos arregalados, vejo-o se aproximando, olhando para algumas enfermeiras para ver a reação de cada uma; - Ai Doutor, você vai dar isso pra ele ? Não vou entrar mais no quarto dele. - umas das atendentes exclama quando pai Giovanni diante de mim, com os braços para trás pede para que eu feche os olhos.
Quando pede para abrir, vejo um pequeno aquário de vidro redondo com duas..., pererecas verdinhas, verdinhas. Como criança que eu era, não pude conter a vontade de pegá-las nas mãos e quem disse que elas paravam quietas ? Aos pulos e gritos das atendentes estéricas, ficava eu brincando com minhas novas amiguinhas.
Esse era o início que a natureza terrena fez parte de minha vida. Das oportunidades de conhecer bichos e insetos, veio uma muito interessante. Julieta, vocês irão gostar dela.
Julieta era um cágado, não muito pequeno, nem muito grande, mas pesado.
Durante a noite, ela ficava em sua toca, uma caixa de papelão, com água e poucas folhas. Durante o dia, eu pedia que colocassem ela em cima de um banco, e assim, dava alface para ela comer.
Na época, não era somente eu, eramos setes; Pedro, Anderson, Cláudia, Eliana, Luciana, Tânia e eu. Assim, cada um queria ter seu momento com Julieta. Porém Julieta não sabia onde era o banheiro, sendo assim, quando tiravam ela da cama de cada um de nós, sempre havia uma marca de que Julieta esteve lá, bolinhas de cocozinho...
Uma vez, tive a idéia de pegar um carreteu de lã e amarrar Julieta, pois assim, ela teria mais espaço para passear, podendo ir onde quisesse, mas..., sempre quando chegava o almoço ou o jantar, eu puxava ela de volta.
Eu sempre comia e ainda como com o prato de comida sobre um banco, na época de Julieta os bancos eram substituidos pelos criados mudos. De praxe, sempre deixo cair alguma coisa; alface, tomate, pedaço de carne, ovo, arroz e etc; nada disso é proposital; talvéz porque, quando como, sou extremamente ansioso...
Julieta começou a sacar que sempre caia comida quando eu dava minhas garfadas. Pois aí Julieta nas horas de comer, sempre ficava de pescoço esticado, olhando para cima, esperando algo cair, e quando chegasse a hora, nhac !
Os dias passaram, e toda vez que Julieta, em sua liberdade saia para os corredores do hospital, na hora do almoço e jantar, eu puxava ela de volta.
Acredite se quiser, teve um tempo que eu não precisava mais puxá-la, quando vinha o almoço, lá vinha ela lenta para chegar onde a comida caia; assim, também era no jantar.
Um dia, Julieta amarrada no cordão de lã, saiu para passear. Estranhamente, no almoço, ela não voltou, então, resolvi puxá-la. Minha surpresa foi que a lã não tinha resistência, estava leve, alguma coisa havia de errado. Ao final da corda, não havia mais a Julieta. Alguém deve ter levado ela. E todos choramos a ausência de nossa amiguinha querida.

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