Monday, May 18, 2009

Nosso Heroi


Quando era criança, não tinha muito interesse em programas jornalíticos muito menos esportivo. Achava um tédio massante ficar em frente a TV vendo um bando de gente correndo atrás de uma bola, ou, uma disparada de carros correndo em uma pista que não tinha mais fim; bem, essa era minha imaginação na época.
Quando comecei realmente a entender o que vem a ser a Formula 1, os corredores marcantes eram Emerson Fittipaldi, ou Nick Lauda, que lembro em memória, alguns flashs de seu acidente, que deixou cicatriz marcante em sua face.
Passado um determinado tempo, digo, anos, entra em cena Nelson Piquet. Mesmo assim, nada me prendia a este esporte. Aos domingos, eu acordava cedo; ainda preguiçoso, devido a noite bem dormida; peço para alguém ligar a TV. Queria ver os desenhos que passavam, ou então, Disneylandia, um programa que a Globo passava e era o domingo perfeito para uma criança que passará seu maior tempo em frente a uma TV em preto e branco.
Mas, meu domingo acabava quando ao surgir na tela, a corrida de Formula 1, já tinha percebido que meus programas favoritos, meus desenhos não passariam como devia e, emburrado, esperava que as horas passassem, e aquele esporte chato acabasse.
Mas no decorrer dos anos, algo me dava interesse nesse esporte automobilístico, sentia que alguém, uma pessoa muito especial, merecia meu apoio, minha torcida, minha vontade de vê-lo correr.
Quando percebi Ayrton Senna, a Formula 1 para mim começou a ser o esporte mais bem elaborado e incrivelmente fantástico, onde envolvida a tecnologia; eu, a cada ano, vivia interessado nas notícias sobre as façanhas da Lotus - John Player Special negra de Senna.
Agora sim, a Formula 1 era o domingo perfeito; e ansioso para o início da largada, eu já estava preparado para dar o meu apoio a Senna. Olhando fixamente a cada curva, ficava atento aos cronómetros que marcavam o tempo de distância do oponente, ou o tempo de uma volta completa. Vai Senna !!!! Eram minhas palavras durante toda a prova, e com alegria, sabia que ele era o corredor que o Brasil precisava.
Durante as corridas, tinha sempre um inimigo que eu detestava, Alain Prost, francês, que era a raiva que enraizava em mim, torcendo que seu carro quebrasse, ou que ele desse uma curva errada e pudesse ser ultrapassado por um, dois, até quatro carros, não lhe dando a oportunidade da vitória.
Mas apesar de Senna ser a estrela nas corridas, outro grande corredor me dava a chance de vê-lo aos bons olhos, eu gostava dele, Niguel Mansell, um corredor britânico, que pela sua audácia e coragem, dava um "chega pra lá" em quem estivesse em seu lado ou mesmo na frente. Quando estavam os dois, Senna e Mansell, eram como a dupla dinâmica contra o implacável Prost.
A paixão por Senna era tamanha, que um sonho quase impossível foi realizado.
Era 1990; um médico, no qual infelizmente não recordo seu nome, veio nos visitar. Era um sábado, logo no início da noite. Conversamos sobre tudo, filmes, esporte e etc. Quando chegou a hora de ele se despedir, diz que precisava ir embora pois teria que acordar cedo e que fazia parte da equipe médica de Interlagos. Quando eu soube disso, olhei com aquele interesse e perguntei se realmente era a Interlagos das corridas de Formula 1; disse que estaria trabalhando lá devido a corrida. Assim, pergutei se eu escrevesse uma carta para o Senna, se havia condições de entregar ao nosso grande corredor. Sua resposta fôra que faria o possível mas que não prometeria, pois poderia ser que algo o impedisse de chegar ao Senna. Mas como estava na hora do médico ir embora, pergunto se poderia voltar na segunda-feira para vir buscar a carta, pois a corrida seria no domingo seguinte. O médico disse que passaria bem rápido, apenas para buscar a carta.
Na manhã seguinte; peguei um papel sulfite e comecei a desenhar um mapinha, das posições das camas do quarto onde eu estava; como vocês devem saber, na época éramos sete, e assim, numa visão de cima, desenhei cada cama com o nome de cada um. Depois peguei um caderno, e a mão mesmo, escrevi a Senna, dizendo quem eu era, e o que tanto queria; conhecê-lo pessoalmente.
Na segunda-feira, o médico retornou, pegou a carta e foi embora. Na semana depois da corrida, ele veio novamente e disse que entregou a carta para o pai de Senna, e que se der certo, é só aguardar.
Dois meses depois, mais precisamente dia 25 de abril de 1990, numa quarta-feira, ao meio dia, duas moças, uma enfermeira e uma técnica de laboratório vieram estéricas até a mim, gritando - Paulo ! Adivinha !!!!! - no momento, eu esperava a resposta de uma carta que eu havia escrito para o presidente da Gradiente pedindo a doação de um computador, era a única coisa que passava em minha mente.
Minha resposta foi não saber, uma vez que não queria chutar algo que com certeza era errado.
A insistência das duas para que eu adivinhasse era grande que meus acúmulos não saber de nada, fizeram elas revelarem algo muito mais que esperado e maravilhoso. - O pai do Ayrton Senna Ligou e disse que o Ayrton estará aqui com vocês as 04:00 horas !!!!!
Como era horário do almoço, ouve sim, barulho de pratos cairem e se espatifarem no chão, não pude conter a alegria que havia em mim, algo indescritível era o que eu estava sentindo na hora.
O tempo parou, tudo estava extasiado, o meu sonho, o sonho de nós sete de ter o heroi em nosso quarto se tornará realidade. Na ansiedade de chegar as 16:00h, o silêncio era quebrando com algumas pessoas que brincavam dizendo bem alto - Chegou ! - sempre quando alguém dizia isso, meu coração palpitava, disparava.
Finalmente chegado o tão esperado momento, ele passa direto; aos berros, nós sete gritamos; - É Aqui !!!!, Volta !!! Aqui !!!!
Ayrton Senna estava em nosso quarto, o que mais me surpreendeu foi; ele estava com o mapinha que desenhei em sua mão, e conforme o desenho, ele se aproximou de mim, me deu a mão e perguntou; - Você, é o Paulo ?
DEUS sabe o que somos, o que sentimos e o que nos faz bem; DEUS estava como sempre está, presente naquele momento. Ao sentir a mão de nosso heroi, mãos estas que nos deram alegria, me faz pensar que, tudo que realmente queremos, realmente temos a chance de ter. Ayrton Senna estava em nosso quarto, dando sua graça e humildade, em forma de uma amizade digna de sabedoria e bom senso. Ficamos juntos cerca de duas horas, com incansáveis autógrafos e poucas fotos guardadas até hoje. Ao partir, Senna diz algo incrível; aqueles que acreditam ou não, sua última frase aqui foi; - Eu vou voltar, mas quando eu voltar, vocês não irão me reconhecer. - Dado a quantidade enorme de gente que vieram ver o heroi, pois estes, quase não deram a opotunidade de Senna ser somente de nós sete.
Não há mais heroi, não há mais forma da Formula 1, ser o que realmente era, não há mais humildade nestes que hoje correm, tentando nos alegrar com suas vitórias.
Acredito, como Senna disse que voltaria, mas que não o reconheceríamos, ele voltou, e está até hoje, com cada um, que com muito amor e carinho, demos a ele, em todos os momentos de sua profissão.

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